O carpinteiro que usava o martelo como bússola

A profissão de carpintaria é uma das mais antigas, desde os primórdios da humanidade, quando o homem criava ferramentas para sobreviver a adversidades que o meio ambiente lhe impunha.

Com elas, caçava, pescava, defendia seu povo e, também, construía sua moradia.

Uma dessas ferramentas é hoje o tão conhecido martelo, utilizado pelo carpinteiro para pregar partes de uma madeira na outra.

No entanto, o nosso carpinteiro em questão depositava tanta fé no martelo que, por onde passava, dava pancadinhas nos vários objetos à sua volta. Ou seja, para ele, dono de um martelo, tudo parecia prego.

O carpinteiro, tão apegado ao seu martelo a ponto de enxergar prego onde este não existia, se assemelha a um grupo comum de pessoas que mantêm crenças dogmáticas baseadas em determinadas pressuposições e convicções do “senso popular”, acabando por distorcer os fatos e os acontecimentos experimentados ao longo da vida.

Não é raro, algumas pessoas receitarem medicamentos ou aconselharem amigos ou parentes sobre determinadas enfermidades, algumas graves, fundamentadas somente na fé de que aquele medicamento ou procedimento, em outras situações, serviu para elas ou para algum conhecido próximo.

Recomendar um procedimento ou uma atitude para salvar relacionamentos interpessoais, crises conjugais, familiares ou intervir em alguma questão relacionada a doenças físicas ou mentais, com base apenas na fé e no pensamento positivo, é ter uma visão atrofiada sobre a realidade, é estar acometido pela hipermetropia, que impede de enxergar melhor as coisas.

Em outras palavras, cuidado!

Crenças rígidas diante dos fatos e acontecimentos da vida tendem a tornar esses indivíduos semelhantes ao carpinteiro de nossa história.

Atitudes assim podem levar à distorção das relações com as pessoas que amamos.

Lembre-se! Um martelo na mão e uma crença arraigada transformam-se em uma bússola para seres humanos inflexíveis.

A pessoa imaginar que a sua percepção de vida é a única que tem validade diante da imensa complexidade que envolve as dores, sofrimentos, prazeres e os momentos felizes inerentes à condição humana, é o mesmo que acreditar que o martelo é a única ferramenta capaz de rebater qualquer objeto. Por isso, não devemos fazer da vida dos outros os nossos pregos.

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e de famílias