Na vida familiar ou política, “o peixe morre pela boca” – parte 2

Na primeira parte deste artigo, discutimos o conceito do delator e do denunciador no contexto político. O primeiro tem o objetivo de fazer denúncias para reduzir sua pena, pagando algum preço por isso. O segundo, mais intrigante e perigoso, é expert em discursos dúbios e em se fazer de vítima, passando a ser admirado por muitos.

Como este último perfil se comporta na realidade familiar e conjugal?

Em geral, na família, o denunciador tem a proteção de pessoas mais velhas que se interessam pelas causas escusas, como os segredos, falcatruas, mentiras e as infidelidades. Na política, ele se esconde e se protege atrás das velhas raposas políticas que se perpetuam no poder.

O denunciador usa da empatia e de sua inteligência social para conquistar o poder.

Porém, o mais difícil mesmo, é que denunciador parece ter o prazer de denunciar por denunciar. Não tem provas, não vai ter redução das suas penalidades. Basta abrir a boca e exercer o direito da liberdade de expressão sem nenhuma responsabilidade pelas consequências de seus atos. Caso seja questionado por familiares, tende a bancar a vítima, dizendo: “já que não posso me expressar, então vou me retirar”, mas isto depois de já ter lançado seu veneno mortal.

De modo geral, a alegação do denunciador na política é sempre a mesma: está sendo perseguido pelos que se opõe aos direitos dos menos favorecidos e que querem tirar o seu poder porque sabem que ele luta por um país mais justo e igual para todos.

O que sabemos é que o ditado “o peixe morre pela boca” pode ser traduzido da seguinte forma: o animal aquático, quando está com fome, peixe pequeno ou tubarão, sai à caça para suprir sua fome, uma necessidade fisiológica.

No caso de nossos contextos, os denunciadores ou delatores são “tubarões” que caçam suas presas para delapidar, na família ou na política, o patrimônio alheio, porque têm fome de poder, de prestigio, privilégios, ambição. Não se importam se as pessoas que confiaram ou confiam na sua integridade são prejudicadas. Na família, ficam mágoas, ódios, separações, questões não resolvidas, só interessando ao denunciador a sua posição de detentor da verdade.

Em alto mar peixe pequeno serve de alimento para tubarões.

Em cenário político, confuso e corrupto, o eleitor desinformado é usado para a perpetuação de antigas práticas ilegais de pseudodemocratas.

Em geral, na política, o denunciador ou delator é um peixe grande que necessita se perpetuar no poder e, com isso, o peixe pequeno (povo) mais desavisado vira motivo de diversão nas rodas de amigos políticos, com churrasco de final de semana, combinando o que cada um vai denunciar ou delatar para que ninguém perca a mordomia de ser rebaixado de tubarão para peixe pequeno.

Enfim, para finalizar esta conversa, sugiro que você tenha muito cuidado com os delatores ou denunciadores, porque eles costumam dar uma de psicólogos, decodificando muito mal o trecho que lhes interessa. Para eles, vale a máxima: “sou responsável pelo que falo, mas não posso ser responsável pela interpretação das pessoas e autoridades que estão me julgando”.

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias

Na vida familiar ou política, “o peixe morre pela boca” – parte 1

Não é raro que alguém, em uma reunião familiar, fale mais do que devia e, nesse momento, geralmente o silêncio é “ensurdecedor”, ou seja, o peixe já está praticamente morto pelos olhares fulminantes dos demais presentes.

Na vida política, guardadas as devidas circunstâncias, acontece algo semelhante. Vira e mexe um político de expressão comete equívocos, gafes, faz denúncias que não deveriam ser expostas ao público ou fala demais em telefone grampeado, aconselhando um colega a se respaldar em tal documento para garantir privilégios. Quando a notícia vaza, a tendência do político é engolir uma série de repressões e retaliações por parte do seu eleitor e colegas partidários, ou seja, nesse contexto, o peixe também morre pela boca.

Infelizmente muitos expoentes da política nacional ainda não tomaram conhecimento do ditado, já que, de tempos em tempos, acabam lavando roupa suja em público, sem se dar conta que essas roupas são, na verdade, “tiros no pé” no atual processo democrático em construção, no qual a liberdade de expressão deve ser utilizada para fortalecer os pilares da nossa constituição. É o que está no seu artigo 1º, parágrafo único: “Todo poder emana do povo e em nome do povo deverá ser exercido”. No discurso político, a maioria de nossos representantes fala para o povo, mas governa para poucos.

Em geral, os discursos são dotados de promessas de “benefícios” para o povo, seguidas por decretos de leis e medidas provisórias sombrias, que privilegiam grupos de amigos.

Este é um mecanismo antigo: usa-se isca miúda para pegar “peixes pequenos”, governando para liberar privilégios aos “tubarões”, que dão “braçadas” ao delapidar o patrimônio nacional.

Em algumas famílias e casamentos, parece que certos membros imaginam as reuniões familiares como palcos de CPIS (comissões paramentares de inquérito), pois é um tal de um denunciar ou delatar outro, principalmente quando o tema envolve partilha de bens de heranças, segredos familiares e conjugais, guardas compartilhadas de filhos, dentre outros.

Nesse contexto, cada um escreve a própria constituição baseada nas mágoas, ódios, raivas e retaliações, pautando o artigo 1º com: “Todo poder emana da minha opinião e em nome da minha opinião deverá ser exercido por mim”. Nesse momento, a liberdade de expressão se transforma em liberdade de confusão.

Tanto na política como na família, não sei qual tipo de pessoa é mais difícil de conviver:

o delator ou o denunciador.

O delator tem a intenção de reduzir sua punição, tendo que apresentar provas, evidências e, com isso, sofrendo algumas consequências, como a devolução de parte do patrimônio adquirido ilegalmente, a prisão por determinado tempo, a sua reputação arruinada, em alguns casos, ou seja, repressões pelos atos ilícitos praticados.

Mas deve haver alguma consciência, nem que seja parcial, que está sendo morto pela boca. Em outras palavras, ele não é um “peixe pequeno” enganado pela isca do discurso. Ao contrário, na maioria das vezes, é um dos “tubarões” que nadam por águas nacionais e internacionais.

O denunciador também é um sujeito difícil, porque “fala não falando”, mantendo um discurso ambíguo. Geralmente banca a vítima, tem mania de perseguição e usa de um discurso que contagia as pessoas mal informadas, fazendo-se de mártir para que o adorem.

E na família, como são esses dois personagens?

Na segunda parte deste post discutiremos esses perfis complexos e desafiadores.

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias