Na vida familiar ou política, “o peixe morre pela boca” – parte 1

Não é raro que alguém, em uma reunião familiar, fale mais do que devia e, nesse momento, geralmente o silêncio é “ensurdecedor”, ou seja, o peixe já está praticamente morto pelos olhares fulminantes dos demais presentes.

Na vida política, guardadas as devidas circunstâncias, acontece algo semelhante. Vira e mexe um político de expressão comete equívocos, gafes, faz denúncias que não deveriam ser expostas ao público ou fala demais em telefone grampeado, aconselhando um colega a se respaldar em tal documento para garantir privilégios. Quando a notícia vaza, a tendência do político é engolir uma série de repressões e retaliações por parte do seu eleitor e colegas partidários, ou seja, nesse contexto, o peixe também morre pela boca.

Infelizmente muitos expoentes da política nacional ainda não tomaram conhecimento do ditado, já que, de tempos em tempos, acabam lavando roupa suja em público, sem se dar conta que essas roupas são, na verdade, “tiros no pé” no atual processo democrático em construção, no qual a liberdade de expressão deve ser utilizada para fortalecer os pilares da nossa constituição. É o que está no seu artigo 1º, parágrafo único: “Todo poder emana do povo e em nome do povo deverá ser exercido”. No discurso político, a maioria de nossos representantes fala para o povo, mas governa para poucos.

Em geral, os discursos são dotados de promessas de “benefícios” para o povo, seguidas por decretos de leis e medidas provisórias sombrias, que privilegiam grupos de amigos.

Este é um mecanismo antigo: usa-se isca miúda para pegar “peixes pequenos”, governando para liberar privilégios aos “tubarões”, que dão “braçadas” ao delapidar o patrimônio nacional.

Em algumas famílias e casamentos, parece que certos membros imaginam as reuniões familiares como palcos de CPIS (comissões paramentares de inquérito), pois é um tal de um denunciar ou delatar outro, principalmente quando o tema envolve partilha de bens de heranças, segredos familiares e conjugais, guardas compartilhadas de filhos, dentre outros.

Nesse contexto, cada um escreve a própria constituição baseada nas mágoas, ódios, raivas e retaliações, pautando o artigo 1º com: “Todo poder emana da minha opinião e em nome da minha opinião deverá ser exercido por mim”. Nesse momento, a liberdade de expressão se transforma em liberdade de confusão.

Tanto na política como na família, não sei qual tipo de pessoa é mais difícil de conviver:

o delator ou o denunciador.

O delator tem a intenção de reduzir sua punição, tendo que apresentar provas, evidências e, com isso, sofrendo algumas consequências, como a devolução de parte do patrimônio adquirido ilegalmente, a prisão por determinado tempo, a sua reputação arruinada, em alguns casos, ou seja, repressões pelos atos ilícitos praticados.

Mas deve haver alguma consciência, nem que seja parcial, que está sendo morto pela boca. Em outras palavras, ele não é um “peixe pequeno” enganado pela isca do discurso. Ao contrário, na maioria das vezes, é um dos “tubarões” que nadam por águas nacionais e internacionais.

O denunciador também é um sujeito difícil, porque “fala não falando”, mantendo um discurso ambíguo. Geralmente banca a vítima, tem mania de perseguição e usa de um discurso que contagia as pessoas mal informadas, fazendo-se de mártir para que o adorem.

E na família, como são esses dois personagens?

Na segunda parte deste post discutiremos esses perfis complexos e desafiadores.

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias