Todos somos mágicos, na arte de transformar o impossível em possível – parte 1

Conversar com pessoas mais jovens, em geral, traz muito aprendizado. Em uma dessas trocas de experiências, uma jovem dizia que não adiantava insistir em contestar a velha frase “todas as mães são assim mesmo”, porque elas sempre farão tudo para proteger seus filhos.

Era uma conversa sobre atitudes pacíficas e permissivas mães que não conseguem enxergar os comportamentos e hábitos inadequados dos filhos, o que prejudica a convivência familiar. Ao falar do assunto em um debate no grupo, a jovem se colocou, dizendo: “Calma, pessoal! As mães vão sempre enxergar os filhos que elas desejariam ter e não os filhos que, na realidade, elas têm”.

A visão realista dessa jovem fez pairar no ar alguns questionamentos. De certa forma, ela tinha razão. Todos somos mágicos e mestres em transformar desejos em realidade.

Talvez, quem sabe, seja esse nosso olhar mágico que nos permite amenizar a dor de ter de conviver com realidades que enfrentamos todos os dias, por não estar ao lado de pessoas que desejávamos e, sim, de pessoas reais que fazem parte de nossas parcerias, desempenhando os papéis de esposas, pais, irmãos e amigos, os entes queridos, uns por livre escolha e outros por determinação da nossa herança genética.

Tentar transformar a nossa realidade é distorcer a profissão dos mágicos. Eles sabem que seus truques de ilusionismo são passageiros. A nossa vida diária é, uma parte, feita de magia (fantasia) e outra depende do nosso olhar e das nossas ações sobre a realidade, geralmente podendo durar um tempo maior do que os truques mágicos.

A tentativa de ignorar a realidade pode ser um fator de sofrimento para os vários membros da família que, depois de algum tempo, passam a não mais saber distinguir o real do irreal.

Como a história do mentiroso que, de tanto mentir, passa a ser desacreditado por todos, inclusive quando diz a verdade. Nas famílias também é assim: de tanto evitar a realidade, a fantasia passa a fazer parte do dia a dia.

Outro fato, muito corriqueiro, é quando uma pessoa está cegamente apaixonada. Pais, irmãos, amigos e a galera do flamengo avisam e repetem que a pessoa não combina com ela, que os valores, as atitudes e comportamentos não têm nada a ver com ela. Mas, não adianta. É tempo perdido. A pessoa apaixonada acredita que o “amor transforma”, porque tem o poder mágico de tornar o impossível em possível.

Muitas vezes, aqueles que tentam avisar sobre o tipo inadequado pelo qual ela se apaixonou ficam com “cara de tacho”, porque depois de conviver com sua “alma gêmea” idealizada, algo dá errado no futuro e a culpa será daqueles que não apoiaram a relação.

Você também acredita nas “mágicas da vida”? Vamos falar mais sobre o assunto na segunda parte deste artigo.

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e famílias