Femininístico: este problema também é seu!

Uma das grandes inquietações dos pensadores da Grécia Antiga era como compreender a composição do universo, a partir de quatro elementos até então conhecidos e respeitados pelo homem: água, vento, fogo e terra.

Essas inquietações tinham fundamento, já que retratavam a preocupação de compreender a força de cada elemento, individualmente ou atuando juntos, responsável por um padrão de ligação do homem com a natureza.

Com o passar dos anos, a ciência evoluiu sensivelmente e podemos dizer que, hoje, já é possível fazer uma predição e prevenção de quando o homem se opõe a essa natureza, desrespeitando-a. Prova disso são os acidentes naturais.

Quando esses incidentes ocorrem, a ciência consegue, em muitos casos, minimizá-los, curando possíveis estragos dos terremotos (terra), maremotos (água), incêndios devastadores (fogo) e furacões (ar).

Não menos importante, mas seguindo uma ordem de prioridade para a sobrevivência, o homem grego prezava os relacionamentos humanos com uma condição sine qua non para a convivência saudável a partir de um “código de ética individual”.

Um dos primeiros artigos desse código era:

Aquilo que quero para minha vida pessoal devo usar com medida ao tratar o meu próximo.

Neste ponto parece que não evoluímos muito, ou seja, não acompanhamos o desenvolvimento da ciência. O quinto elemento, o homem, tem feito estragos irreversíveis. Parece que não nos ocupamos em entender melhor o ser humano bondoso e amoroso, de um lado, e maléfico e perverso, de outro.

Como prever o funcionamento emocional desse quinto elemento? Quase que impossível! Como compreender dados publicados pelo jornal “O Estado de S. Paulo” (14 de outubro de 2017), que revelam o assassinato de 63 mulheres pelos seus maridos ou ex-maridos, neste ano?

O mês de agosto foi recorde: 12 vítimas dessa barbárie! Parece que voltamos no tempo – ou, talvez, nunca tenhamos vencido esse passado vergonhoso – em que egos feridos, os narcisistas inconformados, apelam e comentem o crime de feminicidio, deixando tantas crianças órfãs, sem qualquer respeito a histórias construídas nessas parceiras.

O risco de vida eminente já se constituiu no momento da escolha do parceiro. As mulheres vivem um jogo de roleta russa, muitas vezes sem sequer notar qualquer irracionalidade naqueles que se diziam seus cúmplices de vida.

Esse é o fruto de uma sociedade machista e narcisista, que fere ou mata mulheres de diferentes contextos sociais, só porque são mulheres. O pior é que o desrespeito e a desqualificação do gênero feminino estão presentes em todos os cenários: na família, no casamento, na vida profissional e nas relações interpessoais.

O que nós profissionais, pessoas comuns, cientistas, mães, pais, podem fazer? Ficar parado é que não é. Vamos denunciar! É preciso que a sociedade se posicione e lance mão de artifícios legais, já existentes, como a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006).

Temos o dever de construir novos suportes para ajudar pais, mães e familiares a perceberem que essas mortes absurdas são de NOSSA responsabilidade.

Sabem o que pode ajudar a mudar isso? É acabar com essa distinção, que começa na educação infantil, em que “isto é coisa de menina”, “isto é coisa de menino”. Você até pode achar absurdo eu dizer isso, mas é no que eu acredito. Meninas, meninos, homens, mulheres são seres em eterna evolução orgânica/emocional/ espiritual. Pense no que impomos a mulheres e a homens em nossa sociedade. Veja se é justo e se permite a igualdade da evolução a ambos os gêneros.

A ciência pode dar conta de uma parte de nossa existência. A outra parte eu e você somos corresponsáveis. Ou mudamos esse modus operandi que oprime as minorias e as mulheres ou continuaremos sendo uma vergonhosa sociedade narcísica e doente. É isso que queremos deixar aos nossos filhos e netos?

Sebastião Souza
Psicoterapeuta de casais e de famílias

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